Eu podia parar com isto. Podia. Mas nunca to disse. E isso provoca ecos que duram o tempo que tiver de ser. Ecos que cantam dentro de mim e nunca me largam. Vejo-me de saltos altos e cara maquilhada a esfregar-te o meu discurso de gente adulta, crescida, essa que tem cartão visa gold e casa própria. Eu podia parar com isto, a sério. Mas nunca to disse.
Éramos todo um piropo, um olhar desfocado, um “mais que tudo”. Até ao dia. O dia do costume. O dia em que tropeçámos um no outro e descobrimos que os nossos ecos eram pura estética ou preguiça. O dia em que nos tornamos numa piada que ambos achavamos graça. E isso era preocupante.
Agora somos os restos do que fomos e fazemos tudo por esconde-lo. Porque cada um se sente num patamar superior. Convence-se que o faz pelo outro, por amor ao passado, porque fazê-lo não mexe em nada com os seus sentimentos. E cada vez que alguém saca um gesto daqueles do antigamente, o outro pensa em silêncio: “Eu podia parar com isto. Podia. Mas nunca to disse”.
E seguimos em frente.
25 agosto 2009
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