15 julio 2009

Vou explicar.
Tu estás ai, eu estou aqui.
Eu, no meu canto, no meu livro super interessante.
Tu, destino incerto.
Eu, cozendo e remendando os meus pensamento, na minha alegria quotidiana de pequenos prazeres. Tu, bem longe deles.
Até que te vejo, deixo tudo, e vou falar contigo.
Assim de simples. Só por falar. Só por dizer.
Iman ou rotina?

13 julio 2009

Silêncio

O problema é quando chegam os silêncios. Esses insuportáveis momentos em que as trivialidades deixam de preencher o nosso pensamento. Aí, nos eternos espaços em branco, olhamos para nós e paramos.
Descobrimos que um não sabe o que fazer com o silêncio do outro. Nunca o aprendemos. Não nos servirão os quilos de livros que estudei ou o catálogo dos filmes que já viste. Pois parece que para este ofício não há diplomas nem livros de instruções.
Estamos lixados.
Porque são nessas pausas em que a presença do passado se torna intragável. Cada gesto, cada movimento discreto, cada tic, tudo se junta num coro celeste que tem como missão lembrar-nos que nós já não somos risadas cúmplices debaixo do lençol. Agora somos silêncio. E continuamos (e continuaremos?) lutando para não admiti-lo.

12 julio 2009

Não és tu, mas a ideia que criei de ti. São as memórias que cozinhei longamente no meu caldeirão de momentos fingidos, que encenei e estreei naquele palco que, de tanto sonhar, tornou-se parte de mim.
Não és tu, são os filmes que vejo e a poesia que imagino ler. É este mundo em que para cada amor há uma esquina, para cada casal, um anel perfeito, para cada dois, um só coração.
Não és tu, é a minha a minha fúria contra o mundo quando descubro que ele não obedeceu às minhas ordens. Incompetente! Que os pincéis que lhe comprei não pintaram o quatro encomendado. Que não existem pincéis.
Não és tu, são os clichés impossíveis de evitar.
Não és tu, sou eu.

08 julio 2009

A professora de matemática

Não sei o que te devo, nem como actuar. Não conheço as ruas que piso, os instintos que me assaltam, essa desgraçada mania do mundo de acabar sempre, e mais uma vez, em ti.
Sinto-me uma mafiosa de cabelo despenteado e de roupa imprópria para a ocasião. Vim de chinelos ao casamento do rei e saí com os dedos do pé a sangrar de pisadelas de salto de agulha.
Esqueci-me do escudo e a bala atingiu-me fundo. Doeu.
Agora, derrubada neste chão pestilento, busco uma explicação e concluo que não sei distinguir entre o que sou e o que me ensinaste a ser, entre o que aprendi nos meus tratamentos de prevenção cardíaca e as drogas que me injectaste directamente na aorta. Desculpa, mas não consigo passar factura. É que, como já sabes, a professora de matemática metia-me medo.