19 febrero 2009

Folhas brancas

Tenho o sapato gasto e o gravador sem pilhas. O caderno acabou e a caneta ficou sem tinta. Tenho o bolso vazio, a cabeça com histórias e as pálpebras a fechar. Dói-me o cansaço, os sonhos e o futuro de folhas brancas por escrever.
Quero ser assim. Como eles.
Levar a vida de horas desconexas, falar do ministro como o gato de estimação, entender os problemas do senhor analfabeto e explica-los ao senhor presidente.
Sair e respirar noticias.
Quero falar, conhecer e descobrir. Quero fechar os olhos e escutar teclas, teclas atrás de teclas, numa música apresada de ritmo desfasado. Quero crescer e não me preocupar mais com a ecologia. Mergulhar-me em papéis. Pilhas de papel não reciclado com notinhas em gatafunho de caneta bic azul.
Quero comprar mensalmente packs de canetas bic.
E depois dizem que a paixão não serve. Nem a força de vontade. Falam da crise, da crise e da crise. Fazem delete em todas as linhas que já tinha começado a escrever nas folhas brancas do meu futuro. Enquanto isso vou comprando sapatos. Para quando chegar o momento em que gastar as solas vire uma rotina.

2 comentarios:

Anónimo dijo...

oh...
eu acho que é mesmo na crise que a paixão serve. porque são esses os resistentes. espero.

Anónimo dijo...

Adorei o texto!!!
Muito bem escrito.
Parabens, filhota!