14 marzo 2008

ressequida

Há caminhos de terra que me percorrem o rosto. As estradas tornam-se mais fundas, os olhos mais chatos, a cabeça se inclina em um desistir pendurado.
Sou folha seca em árvore perene. Resisto.
Quero ir mais longe e superar o que está escrito. Insisto.
A minha vida é um soluçar de bons momentos. É um dicionário de dúvidas, de uma felicidade roubada nas crises de adolescência. Porque nada é bom demais. Bom o suficiente.
Os soluços sufocam-me o ar. Rodopio de tontura em busca de uma linha exacta que há tanto tempo perdi. Sou da estabilidade, do compasso de círculos perfeitos.
Agora vivo aos gemidos. Sou CD com partículas de poeira. Limpa-a que voltará a sinfonia harmónica. As melhores músicas são as que se aproximam da ópera.
O rosto seca com a terra dos anos. Sou diva ressequida dos meses passados em dias de horas lentas e preocupadas. De sono fugido, de ânsias engolidas.
Repudiam-me as felicidades gratuitas, as vidas fáceis de botas lambidas. Quero vomitar os que não resistem, os que não se impõem, os que se deixam beijar as mãos.
Precoce. Prematura. Sim, vou morrer aos quarenta.
Mas antes disso, preciso de um lifting.

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