O problema é que acabámos como um caso mal resolvido. Um caroço entalado na garganta. Aquele gostinho meio amargo, meio azedo, que surge de vez em quando no final de uma conversa ou numa sequência de pensamentos silenciosos.
O problema é que o tal carocito arde fundo e(já) não tem lágrimas, ele doí, bem forte, como aquela distensão muscular que tivemos preguiça de tratar. Mas,pelo menos, conforta-me saber que não é sempre assim, todos os dias o mesmo incómodo. Há largas e extensas temporadas em que a pontadinha adormece. Numa hibernação feliz de hamster pachorrento. Mas nestas andanças da vida não se pode vacilar. Basta uma mínima distracção e, zás, lá surge a dorzinha outra vez.
O problema foi que isto saiu-nos dos planos, transbordou-nos das mãos. Era para ser só mais uma história de noites aborrecidas com novos amigos. Um suspiro dramático num circulo de álcool em copos de plástico. Uma memoria. Um passado distante.
O problema é quando o presente supera a agenda meticulosa que controla os dias. E ali estás tu.Outra vez.
Chegou, felizmente e sem querer, o dia que há anos esperavamos. Quero dar-te um abraço forte e pedir-te desculpa. Quero cuspir-te na cara. Não, escarrar-te e insultar-te e bater-te para que fiquem para sempre no teu corpo as cicatrizes que deixaste em mim.
Quero descobrir se mudaste de perfume. Sussurrar-te uma frase ao ouvido e ver se ainda sabes a resposta. Quero saber da tua mãe, da tua avó, da casa de verão e do gato bebé.
Quero que te lixes e quanto pior melhor. Quero que sofras pelo menos uma lágrima das que eu sofri.
O problema é quando a dor volta e ficamos a pensar em tudo o que podíamos ter feito para evitar a lesão.
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