Ela é assim. Aterriza com a sua voz de comando e o seu olhar de controlo de qualidade. Quer saber se a vida vai bem, se o dinheiro chega, se o trabalho satisfaz e se o futuro promete. Pergunta, comenta e, sem que perceba, já se instalou. Já é de casa. A minha casa. Chega de sorriso aberto e abraço apertado, traz uma mala de saudades e uma sacola com os meus jornais preferidos. Porque ela é assim: nunca falha.
Abre a mala e começa a espalhar-se. Enche a casa de vestígios e arranja um buraquinho no armário. Alisa o lençol, reorganiza o quarto e, em cinco minutos, dominou o mundo. O meu mundo. Porque ela é assim. E eu gosto.
Vem sempre com um rolo interminável de histórias narradas a conta gotas. Vem com serões de conversas debaixo do cobertor. Com o corta casaca dos amigos da lista negra. Com as novidades mais escaldantes da apetecível vida alheia.
- E agora vamos dizer mal de quem? – pergunta, para mudar de conversa. E nós mudamos e voltamos a mudar, interminavelmente.
E de repente apercebo-me da minha presença. Que eu estou ali. Que estive ali todo este tempo, ouvindo e admirando este incansável camaleão que faz o mundo hipnotizar-se. Ela anda e nós seguimos, ela diz e nós fazemos, ela ri e nós gargalhamos. Porque ela é assim, tem este incrível dom de fazer-nos girar, rodopiar à sua volta, sem nunca ficarmos tontos. Sem nunca cair.
18 octubre 2009
08 octubre 2009
Equações absurdas
A variável xis tem muito que se lhe diga. Discute-se por ai se x=1 ou x=2. Burros. Hipócritas. Vê-se mesmo que não tinham na adolescência uma professora de matemática que lhes causava febre antes dos testes. À matemática há que ter-lhe medo e respeito. Há que tratar-la com carinho, dedicação e uma boa dose de benuorns.
Porque, meus amigos, se bem me lembro, xis pode ser uma variável nula. E é ai que as cosias se complicam: nessa pequena e ínfima possibilidade de xis não ter par, de que não tenha um equivalente numérico perdido no mundo da álgebra. E se x=0, então temos um problema. Porque equação incompleta é como morangos sem leite condensado ou hambúrguer sem batatas fritas. Um absurdo.
E, quando o incompleto já parece absurdo, descobrimos que os números são tramados e que estas lógicas transcendentais de Pitágoras, Euclides e Arquimedes vão mais longe. Vão sempre tão longe. É que não chega que xis tenha de andar sempre sozinho na rua, suportar o ípsilon com a sua cara metade aos beijos na fila do cinema, ler, todos os dias, as revistas de fofocas com as mais recentes equações matemáticas bem sucedidas. Não, não chega.
O pobre do xis, ¡que miserável!, teve de viver uns longos meses a passear na rua com a companhia do seu zero para descobrir que matemática é coisa seria, com ela não se brinca. Podes pegar no teu zero e colocar-lhe um roupa nova, uma peruca à maneira e um perfume cítrico, podes chamar-lhe “relação moderna” e “felicidade instantânea”, podes mentir, ocultar, esconder o zero debaixo do lençol. Não adianta, porque dizem os deuses da matemática que com 0, com 1, ou com 2, “as equações sem sentido, que não são válidas para nenhum valor, denominam-se absurdas”.
E, convenhamos, ninguém gosta de equações absurdas. Dão negativas nos testes de matemática. A todos menos ao Dali.
Porque, meus amigos, se bem me lembro, xis pode ser uma variável nula. E é ai que as cosias se complicam: nessa pequena e ínfima possibilidade de xis não ter par, de que não tenha um equivalente numérico perdido no mundo da álgebra. E se x=0, então temos um problema. Porque equação incompleta é como morangos sem leite condensado ou hambúrguer sem batatas fritas. Um absurdo.
E, quando o incompleto já parece absurdo, descobrimos que os números são tramados e que estas lógicas transcendentais de Pitágoras, Euclides e Arquimedes vão mais longe. Vão sempre tão longe. É que não chega que xis tenha de andar sempre sozinho na rua, suportar o ípsilon com a sua cara metade aos beijos na fila do cinema, ler, todos os dias, as revistas de fofocas com as mais recentes equações matemáticas bem sucedidas. Não, não chega.
O pobre do xis, ¡que miserável!, teve de viver uns longos meses a passear na rua com a companhia do seu zero para descobrir que matemática é coisa seria, com ela não se brinca. Podes pegar no teu zero e colocar-lhe um roupa nova, uma peruca à maneira e um perfume cítrico, podes chamar-lhe “relação moderna” e “felicidade instantânea”, podes mentir, ocultar, esconder o zero debaixo do lençol. Não adianta, porque dizem os deuses da matemática que com 0, com 1, ou com 2, “as equações sem sentido, que não são válidas para nenhum valor, denominam-se absurdas”.
E, convenhamos, ninguém gosta de equações absurdas. Dão negativas nos testes de matemática. A todos menos ao Dali.
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