09 noviembre 2009

Coisas de meninas

Quando não estás sou diferente. Mais pesada, mais seria, mais Pinóquio construído a partir de uma colher de pau. Então sinto-me perdida num deserto onde os grãos de areia são pensamentos desencadeados, fraccionados de momentos que nunca viverei. Olho à volta e não estás. Outra vez. A música, ou melhor dito, a falta dela, grita de saudades. Descabela-se, tortura-se e tenta cortar os pulsos. Porque sem ti, música é memória.
As recordações impregnam os cheiros, os doces e a repentina vontade de comer batatas fritas às quatro da manhã. Os pensamentos saltam do bom ao mau como num jogo do Marco Pólo. Está quente, cada vez escalda mais. Quero-te perto para podermos espreguiçar os dedos dos pés e adormecer sem dar conta. Se estiveres ao meu lado, sei que posso acordar com as orelhas à mostra e o cabelo sem pentear. Porque tu não te importas, só gozas um pouco comigo. Só um pouquinho para eu fazer aquela cara de zangada que me vai dar tantas rugas no futuro. Rugas de expressão, já que contigo não há cá cremes nem maquilhagem. Para ti isso são coisas de meninas.
Então vem, quando puderes, vem. E deitamos no lado errado da cama e depois arrancamos o carro e só paramos para comprar gomas. E perseguimos casamentos e fazemos um picnic na praça principal. E brindamos com rimas e vestimos calças xadrez. Todo o dia. Todos os dias. Até aos últimos dias.
Mas se não puderes vir agora, não há problema. Eu percebo. Só queria que soubesses que quando não estás, sou diferente. E, às vezes, só às vezes, tenho saudades de mim.

2 comentarios:

Mamis dijo...

LINDO!!!
Muito bem escrito...
Acho que sei pra quem vc escreveu..

i dijo...

aiiiiiiiiiiiiiiiii que lindo...
pronto, fiquei comovida. e agora quem me volta a pôr em "modo-trabalho-ler-jornal-sou-uma-pessoa-sério-e-informada?". damn