12 noviembre 2006

Fazia calor.

Não havia luz e fazia frio.
As pessoas fumavam freneticamente na pequena janela daquele sótão poeirento e ensaboado, onde soava uma música inaudível e os copos derramavam-se voluntariamente no chão (juntando-se às solas dos sapatos e às calças de ganga novas).
Salutavam-se e sorriram com sacos de supermercado cheios de bebida amarga e guloseimas calóricas. Abraçavam-se e conversavam num ritmo alucinante que o bater da roupa suja não conseguia acompanhar. Eram caras estranhas e línguas misturadas, eram penetras e amigos do peito, eram sacos e mais sacos de supermercado.
Faz calor.
Caras rosadas, caminhos tortuosos, espontaneidade directa, dor de barriga de tanto rir. Copos de plástico e misturas perturbadoras que nos faziam voar por alguns momentos enquanto procurávamos um braço amigo e apoiante. A mão formigava e as escadas eram torturantes.
Rir. Não sabia que o mundo era tão divertido e que caminhar era assim tão estonteante. Não sabia que o tempo passava tão depressa e que aquele sumo, afinal, era um pouco amargo demais.
Dá-me um abraço apertado, disseram. Caí. (era apertado demais).

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