02 noviembre 2006

palavras cobardes

É tão dificil por-te em palavras.
Tenho vontade de te esconder, levar-te para bem longe para que mais ninguém possa olhar para ti. Queria contemplar-te sem horas, ver-te sem barulho, sentir-te sem distúrbios.
Morram os relógios, os pêndulos, o sol. Morram os números.
Correr e não parar. Encontrar um pequeno refúgio, um mínimo sustento, um ínfimo espaço, um insignificante lugar onde eu e tu, onde nós.
Tu não tens nome, não sei sequer tua cara. Ás vezes, enquanto passeio, encontro o teu perfume e sorrio. Ás vezes vejo-te nalguns olhos, sinto-te nalguns distúrbios sonoros.
Orgulho-me de nós.
Na verdade, criámos um mundo nosso, uma bolha de sabão, um pedaço de um sonho, uma palavra proibida, uma nota musical. Vivemos aí, longe de tudo e perto de nós. Numa janela semi-cerrada, para que o ar possa passar. Gritamos juras de amor, de confiança e de carinho eterno.
Palavras.
Elas nadam com a maré e passeiam pelo vento. Elas fogem. Cobardes, palavras, cobardes!
O sentimento desvaneceu-se, a palavra voou para outra boca, o olhar fugiu de mim. E agora digo-te que sei que nada do que escrevi faz sentido. Eu sei, desculpa, é muito difícil escrever-te.

2 comentarios:

Fátima dijo...

tanto sentimento. quando somos mais com outro, todas as palavras se envergonham de tentar falar de um sorriso que por si é feliz, sem mais, no silêncio de dois olhares.

Unknown dijo...

Tudo tem a sua ocasião, o dificil é antecipa-la (a tempo), vivê-la (a tempo) e não a deixar perder-se (no tempo).

Sim, porque convem antecipar até o imprevisto.

Quanto as palavras o melhor é mesmo não confiar muito nelas, são egoistas a partir do momento que as soltamos. Estão-se nas tintas para o que queremos (ou queriamos) dizer.