28 agosto 2007

Fico

Se não te fizer muita diferença, fica. Só mais um bocadinho.
É o tempo da vida mudar, do rumo se estabelecer, do mundo aprender a engatinhar.
Um bocadinho é muito menos do que as horas penosas em que os minutos se contavam em batidas decrescentes e em que a música soava a cada hora, ou assim.
Não é tão bonito como o jantar na mesa de madeira, o filme com sussurros de arrepios ou os pés a entrelaçarem em cócegas e risadas.
Não é tão imenso como um abraço cúmplice, um olhar apertado, um presente desentendido.
É menos embaraçoso do que dançar na rua, cantar na varanda, ouvir uma última vez as tuas mãos a conversar baixinho com as minhas.
Mas se não te fizer diferença, não te vás embora depois do café da manhã. Fica para o almoço. Prometo que te faço uma comida cheia de hidratos de carbono. E se não gostares do meu tempero levo-te ao restaurante. Pago eu, não te preocupes.
Mas fica só mais umas horas.
Pega-me ao colo para eu espernear, diz piadas para que eu faça quarenta e seis não-sorrisos forçados, dança e obriga-me a dançar.
E durante o almoço podemos conversar sobre coisas quotidianas. Sobre o filme de ontem, a noite de hoje, os dias e dias e meses e meses de resistir derretido.
E se não te fizer mesmo nenhuma mossa, fica para o café.
Vai deixando-te ficar e embalar pelos momentos de gargalhadas improvisadas e continua a ensinar-me a viver o presente, sem agenda, sem relógio, sem esquemas e tabelas.
Desculpa se não tenho nada para te dar em troca. Mas posso oferecer o jantar.
Isto é, se não te importares muito de ficar mais um pouco.

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