20 agosto 2007

Sem relógio

Chega de lamechice e textos de amor.
Chega de discursos apaixonados e corações a voarem pelo ar.
Mas hoje. Hoje é um dia especial.
Passou-se tudo num instante.
Chegaste de carro novo, como quem não quer a coisa. Gravaste músicas invulgares, contaste histórias desconhecidas. E foste tu, mais uma vez tu.
De cara para o mar, com o ranger da madeira.Com vozes e sussurros que ultrapassavam paredes, com a preguiça solarenga e o banho que queimava os poros. Contigo e sem relógio.
Dizes que não gostas de doces mas adoras chocolates. Dizes que não vives sem música e cantas sempre tão baixinho. Nunca queres beber mas não recusas desafios. Dizes que está sempre tudo bem e revelas-te tão encimado. Dizes que vai ser fácil mas os teus olhos não sabem mentir. Dizes que dizes pouco e, afinal, dizes sempre tanto.
As peles colam e partilham perfumes.
Os olhares contêm palavras.
Os toques são livros inteiros de ternura.
Os dias sucedem-se sem contador. São momentos e momentos e momentos.
Ás vezes converso com o destino.
Em tantos anos acabámos por nos tornar muito próximos.
Simpático, afável, ternurento, resolveu pôr-me à prova.
E eu também não recuso desafios.
Vamos até ao limite, até ao último segundo da vida terrestre, até ao limiar da dor humana.
Fugimos e fugiremos outra vez. Porque a nossa vida é assim: sem relógio.

No hay comentarios: