Eram estranhos. Estranhos unidos pelo desconhecido.
Em cada feição se notavam horas de preparativos frente ao espelho, noite dormida aos sobressaltos com formigas no estômago, vezes e vezes da mesma frase pronunciada: “A ver”.
“A ver” como será a viagem, que tal os companheiros, os prémios, a música e a saída à noite. Um “a ver” de poucas expectativas, de espera desinteressada. Mas em todas as letras pronunciadas se encontrava uma certeza por detrás dos olhos ainda tímidos: queriam “passa-lo bem”.
E de bem em bem, lá o foram passando. Pelo jantar de cidra e pelo pub de música espanhola, pelos segredos confessados a desconhecidos, as traições, os desamores, a vida contada em altos decibéis.
Dividiram o carro, o copo, o quarto, as criticas de olhares e bocas caladas.
Horas depois, escassas horas depois, já não se sentiam estranhos. Não viram o príncipe, a Letizia ou a Ingrid Betancourt, mas afinal isso não importava nada.
Porque já não eram estranhos e tinham-no passado bem.
Muito bem.
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