Dizes que não queres falar. E eu respeito.
Mas e se eu perguntar só assim ao de leve?
- Já te disse que não quero falar.
Desculpa. Eu respeito. Estava a ser invasiva. E isso não quero ser. Não. Isso não.
Mas eu não sei falar de outra coisa. Porque é só nisso que eu penso. Naquilo de que tu não queres falar.
E então não falo sobre nada, porque qualquer assunto seria um desvio ao tema principal. E tu nada respondes. Não queres, já sei. Eu respeito.
Mas a verdade é que não respeito coisa nenhuma. Porque quero mesmo saber. Porque me preocupa.
Mas não pergunto, nem comento. Porque tens direito a não querer falar. Tens esse direito, mas eu não o respeito.
E então pergunto.
Dizes que estás bem. Eu não acredito. Mas não insisto. Nem contesto.
E caímos na monotonia de pergunta e respostas ocas. Em que tudo o que dizem é: fala comigo, por favor, daquilo que não queres falar.
E mesmo assim não falas. E eu respeito.
26 noviembre 2008
18 noviembre 2008
Naquele banco de jardim
Hoje tive saudades de me sentar num banco de jardim. De me sentar, bem juntinho, naquele banco de jardim. E lembrei-me.
Lembrei-me de ficar em silêncio, apreciando o momento. Dos beijos que nunca contei, do roçar das mãos que só eu senti. Lembrei-me daquela primeira jura de amor. Eterno.
De como a chuva era a pior inimiga das relações. Das longas caminhadas ao frio de mãos entrelaçadas. Muito antes de existirem os carros.
De um jantar em um fast-food de centro comercial. Do quanto sonhava com esse momento de hambúrguer. E como era romântico. Aprender a dar as mãos no cinema. Devagarinho. E, quem sabe, às vezes, dizer um segredo ao ouvido. Arrepios.
Dos beijos eternos. De abrir os olhos e a paisagem já ter mudado. Radicalmente.
E hoje tive saudades dos amores escondidos. Daqueles que nunca contei. De me deitar na cama, num grande suspiro, e sonhar.
Sonhar com um banco de jardim. E um alguém, quem sabe.
Mas agora cresci e as casas têm aquecimento central. Já não é preciso passar frio.
Lembrei-me de ficar em silêncio, apreciando o momento. Dos beijos que nunca contei, do roçar das mãos que só eu senti. Lembrei-me daquela primeira jura de amor. Eterno.
De como a chuva era a pior inimiga das relações. Das longas caminhadas ao frio de mãos entrelaçadas. Muito antes de existirem os carros.
De um jantar em um fast-food de centro comercial. Do quanto sonhava com esse momento de hambúrguer. E como era romântico. Aprender a dar as mãos no cinema. Devagarinho. E, quem sabe, às vezes, dizer um segredo ao ouvido. Arrepios.
Dos beijos eternos. De abrir os olhos e a paisagem já ter mudado. Radicalmente.
E hoje tive saudades dos amores escondidos. Daqueles que nunca contei. De me deitar na cama, num grande suspiro, e sonhar.
Sonhar com um banco de jardim. E um alguém, quem sabe.
Mas agora cresci e as casas têm aquecimento central. Já não é preciso passar frio.
13 noviembre 2008
Esmagadinhos
“Tivesse marcado para mais pessoas”, disse o senhor sem nome. “Soubesse eu como essas coisas se faziam”, pensei.
Mas o feito é facto e a solução era única: “Apertarmo-nos”.
E foi chegando mais um e outro e o metro quadrado encolhendo. A um já não se via os gestos, a outro a cor dos olhos. As fotos, uma amalgama de pedaços sem sentido. E foi chegando mais outro e mais um e já não podíamos cortar a carne. “Dou-te espaço para cortares a tua primeiro se quiseres”. É a generosidade própria dos apertados. Ou dos esmagadinhos, preferiria dizer.
Esmagadinhos pelo mesmo sentimento. Aquele comum aos que se encolhem para não se separar, aos que não importa comer primeiro ou deliciar-se com a carne fria e gelada.
E à medida que o tempo passa, vamos apertando, encolhendo, empurrando. Mais e mais. Porque uma vez encaixado, não há volta atrás.
E perguntava-me um no outro dia:
- Como descreverias um verdadeiro amigo?
E eu, sem saber, sabiamente respondi:
- É aquele a quem ligaria num domingo a tarde para vir preguiçar comigo no sofá.
Os dois esmagadinhos, acrescentaria hoje.
Mas o feito é facto e a solução era única: “Apertarmo-nos”.
E foi chegando mais um e outro e o metro quadrado encolhendo. A um já não se via os gestos, a outro a cor dos olhos. As fotos, uma amalgama de pedaços sem sentido. E foi chegando mais outro e mais um e já não podíamos cortar a carne. “Dou-te espaço para cortares a tua primeiro se quiseres”. É a generosidade própria dos apertados. Ou dos esmagadinhos, preferiria dizer.
Esmagadinhos pelo mesmo sentimento. Aquele comum aos que se encolhem para não se separar, aos que não importa comer primeiro ou deliciar-se com a carne fria e gelada.
E à medida que o tempo passa, vamos apertando, encolhendo, empurrando. Mais e mais. Porque uma vez encaixado, não há volta atrás.
E perguntava-me um no outro dia:
- Como descreverias um verdadeiro amigo?
E eu, sem saber, sabiamente respondi:
- É aquele a quem ligaria num domingo a tarde para vir preguiçar comigo no sofá.
Os dois esmagadinhos, acrescentaria hoje.
02 noviembre 2008
O equilibrio do universo
Hoje já é ontem, foi a conclusão que cheguei.
Hoje já é ontem, comentei de maquilhagem borrada, cabelo duro, bolhas nos pés.
Hoje já é de manhã, porque hoje já é amanha, dizia-me a data do jornal do dia seguinte.
Hoje já é amanhã! Era o queria gritar. Mas não havia voz.
Hoje, ontem e amanhã gastei a voz num espanhol de tempos compostos, num inglês de me tarzan tu jane.
Tentei convence-los de uma origem falsa, expus a garganta a um ar de tabaco barato, a gritos de músicas aprendidas de antemão.
E pensando nesses termos, já me doía a cabeça há três dias. Desde ontem e até amanhã.
É curioso o tempo, faz-nos com cada partida.
Mas então voltei para casa, porque o jornal (e todos sabem que o jornal nunca mente) me dizia que tínhamos riscado o meu dia do calendário. Voltei para casa, e o cansaço adormeceu-me.
Mas não é que quando acordei ainda era hoje? Quero dizer, o hoje que ontem era amanhã.
No fim das contas, na vida perde-se um dia e ganha-se outro logo a seguir. É o universo a equilibrar-se, diriam os cientistas.
Hoje já é ontem, comentei de maquilhagem borrada, cabelo duro, bolhas nos pés.
Hoje já é de manhã, porque hoje já é amanha, dizia-me a data do jornal do dia seguinte.
Hoje já é amanhã! Era o queria gritar. Mas não havia voz.
Hoje, ontem e amanhã gastei a voz num espanhol de tempos compostos, num inglês de me tarzan tu jane.
Tentei convence-los de uma origem falsa, expus a garganta a um ar de tabaco barato, a gritos de músicas aprendidas de antemão.
E pensando nesses termos, já me doía a cabeça há três dias. Desde ontem e até amanhã.
É curioso o tempo, faz-nos com cada partida.
Mas então voltei para casa, porque o jornal (e todos sabem que o jornal nunca mente) me dizia que tínhamos riscado o meu dia do calendário. Voltei para casa, e o cansaço adormeceu-me.
Mas não é que quando acordei ainda era hoje? Quero dizer, o hoje que ontem era amanhã.
No fim das contas, na vida perde-se um dia e ganha-se outro logo a seguir. É o universo a equilibrar-se, diriam os cientistas.
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