Tínhamos um ar mudado. Como se a vida, de repente, tivesse deixado de ser um momento. Sentíamos aquele peso nas costas das velhas memorias de alegrias instantâneas, de compromissos com o cair da noite, de gargalhadas em troca de copos de plástico.
O mundo tinha voltado atrás, mas a maquineta estragou-se a meio caminho e ficámos ali, perdidos entre a felicidade e o conformismo. Entre o querer ser e aquilo que a vida nos tornou.
Tentámos fingir e repetir, mecanicamente, o passado. A criação ideal que cada um desenhou da sua vida anterior. Da Vida com vê maiúsculo.
Já não havia razão para chorar porque agora as lágrimas seriam profundas, sofridas, existenciais. E todos sabem que o lacrimejar verdadeiro não é para aqui chamado.
Então engole o choro e sorri. Constata, uma vez mais, o fracasso em que te tornaste. O triste processo de involução que empreendeste nos últimos anos. Olha-te na agua espelhada daquele rio urbano e conclui que este não és tu ou, pelo menos, quem tinhas planeado ser.
E, pela primeira vez, não é mais preciso fazer juras de amor ao fim da noite. Elas estão subentendidas naquela dura realidade contada no frio de uma janela aberta durante a madrugada.
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2 comentarios:
Que orgulho..
Lindo! Muito bem escrito.
credo, que triste. que triste MESMO. duas chapadas por te pores a dizer estas coisas.
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