Dizem que “queixar” é um mau verbo. Dizem por ai que isso de reclamar, protestar, contestar e resistir, é uma coisa reprovável.
Pois eu não concordo.
Sobem-me os tremores pelos caminhos dérmicos, arrepiam-se os meus pelos e enlagrimam-se os olhos. O calor apodera-se do meu bom senso e começo a achar que os poucos decibéis permitidos pela lei são inaudíveis.
Mexem-se-me as mãos e os pés e os olhos e os cabelos. Gesticulo e articulo um discurso corrido e apressado de protestos e reivindicações.
Quero o mundo como eu quero.
Não sou rebelde nem contestatária. Sou eu.
E quero justiça.
Quero justiça pela comida que levou horas a ser preparada e vem mal servida no prato. Quero justiça pelos sorrisos que deveriam sair das bocas dos empregados.
Quero justiça pelas moedas que ficam a mais nos caixas.
Quero justiça pelas palavras amáveis que queriam sair e que são substituídas por discursos sexistas.
Quero justiça pelo direito ao silêncio que é quebrado pelo grito hormonal e sedento de trabalhadores empoeirados.
Quero justiça pela disponibilidade da função-publica-das-nove-as-cinco-e-às-quinze-para-as-cinco-já-está-tudo-fechado.
Quero justiça pela quantidade de árvores que poderia ser poupada nas burocracias inúteis.
E agora dizem-me para parar de me queixar. E eu não quero.
E queixo-me por causa disso.
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2 comentarios:
pulseirinha pó outro pulso, vá!
"desculpe mas já fechou!"
"ainda são 16h59".. "no meu relógio não!"
'=| humpf..
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