03 diciembre 2007

o samba dos focas

As consoantes mudas estão encarceradas na mais longínqua prisão. O “tu” foi para o paredão de fuzilamento, junto com o “connosco”, o “negoceio”, o “autoclismo” e o “telemóvel”. A minha cabeça deixou de lado as sirenes de alerta que disparavam sempre que eu lia “ação”, “inadimplência” ou “ególatra”. Agora penso num sotaque neutro, cheio de “todo o mundo”, “legal”, “galera” e “ponto de ônibus”.

Esqueci de me apresentar. Mas é fácil. O Chico Ornellas costuma descrever a 18ª turma do Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado da seguinte forma: “São trinta alunos. Quinze de São Paulo e quinze de fora. E uma estrangeira, a Marina, que veio de Portugal”. Essa sou eu.

“Portuguesa de araque”, me descreveu uma vez um foca. A brincadeira acabou por se tornar a minha mais perfeita definição. Brasileira-portuguesa ou portuguesa-brasileira? Depois desses três meses, prefiro deixar a resposta em branco.

Agora me parece tão distante o primeiro dia em que o Luiz Carlos Ramos nos disse: “Eu vou passar uma pauta para vocês.” E eu franzi a testa e pensei: “O que será que é uma pauta?”

Mas esse dia passou rápido. A família dos focas me acolheu e me pegou para criar. Com paciência e determinação me alfabetizaram a este país e esticaram os meus horizontes. Foram noites sem dormir pensando na matéria que tinha que entregar às 23:59, analisando os possíveis erros e repassando as dicas de texto e regras do manual.

Propaganda enganosa. Isto não é um curso, é uma familia-escola. A forca e o chicote pendurados na sala, bem tentam amedrontar os focas mais ingênuos. Mas bastaram alguns dias para entendermos que na escola dos focas, a aprendizagem tem gosto de churrasco e noites de violão. Ritmo de samba-enredo cantado num bom paconhol.

Foi necessário atravessar o oceano para conhecer o meu vizinho Paco Sanchez, o “pai” do já famoso paconhol, e aprender a importância de um texto ousado, porque afinal, “No pasa nada, e se pasa, que importa? E se importa, que pasa?”.

Agora o samba dos focas está chegando ao fim. Os meus pés continuam se mexendo freneticamente ao ritmo de 12 horas por dia de redação, sem fins-de-semana ou feriados. Ainda não sei sambar muito bem, mas uma coisa eu sei: Samba, que é samba, não tem compasso final. E foca, que é foca, nunca vai desistir de sambar.

1 comentario:

Anónimo dijo...

Bom texto! Parabens pola formatura. Sinto muito nao acompanhar vocés hoje! Diga para os outros. Nunca escribo nos blogs, mas desta vez achei obrigado: afinal é conveniente deixar unha testemunha por escrito do pacunhol.