23 abril 2009

All-star

Não quis olhar. Congelei-te numa imagem e fechei os olhos. A luz doía muito e mostrava um filme serie B que falava de um homem que se queria compor, que lutava por encontrar o tom certo, a nota perfeita, afinada, ritmada a uma melodia pré estabelecida. Guião medíocre. Apertei mais os olhos e respirei.
Aqueles não éramos nós. E os nossos ouvidos sangravam de ferida aberta com remédio errado. A voz tremia a cada piada mal conseguida, a cada palavra engolida com miolo de pão.
Tu és aquele all-star roto com o dedo de fora. És o sapato que se sabe lixo e mesmo assim, heróico, resiste até ao fim da viagem. Sem descompor-se, sem nunca desmaterializar.
E eu sou só um acompanhante desse all-star de caveira desbotada. Sigo, cega, os seus passos. Porque há que protege-lo. Custe o que custar.

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