30 abril 2009

Caroços de tangerina

Acreditava que seria uma espiral perfeita, eterna, colorida e brilhante, como as tardes de domingo a jogar Sonic na Sega Saturn. Que aquele cheirinho cítrico de fruta descascada iria continuar impregnado na nossa pele, recém queimada de sol. Via-nos numa fotografia congelada de sorrisos extravagantes, num passado que nunca chegaria ao futuro banal de passividade amorfa.
Mas foram comendo as nossas costuras e, aos poucos, deixámos de ser capazes de remendar-nos. Andávamos rotos pelas ruas sinuosas de um país estrangeiro, em que naquela imagem, reflectida nos vidros das lojas de marca, não éramos nós que aparecíamos. O meu nariz já não cheirava os caroços de tangerina engolidos ao acaso, nem aquele perfume que um dia deixaste no lençol.
Nós éramos eu e tu. E isso já não me servia.
Neguei 29 vezes e à trigésima disse: chega.
Agora chegou e chegámos nós aqui. Sem saber muito bem se preferimos o 29 ou o 31.

1 comentario:

Francisco Maia dijo...

Comecei por não perceber. Depois percebi...