19 noviembre 2006

27

A cadeira estava fria e sentia-se o zumbir do esquentador branco do canto da sala que se esforçava, honestamente, em desempenhar bem a sua função. Resmas de folhas escritas, sublinhadas, rasuradas e reescritas. Quilos de livros e marcadores verdes; olhos frenéticos e ouvidos expectantes.
A espera mata.
Cada espasmo muscular, cada tentativa falhada de concentração, cada gota de suor retida sempre que a porta se abria e não, o cabelo não era branco.
Chega com um sorriso e um olhar confidente (a perna começou a tremer). De coração disparado e agora, oficialmente, sem coordenação motora, a voz torna-se incontrolável e fala por si só numa língua que não pode comunicar e tudo o que sabe fazer é sorrir enquanto articula mecanicamente sons universais.
Vinte e sete, afirmou
Afinal, ela usou dez anos de aparelho nos dentes, disse a professora para si mesmo.

1 comentario:

Fátima dijo...

isto reflecte um pouco a amalgama de pessoas que encontramos tantas vezes, em tantos lugares. e tu agora trazes uma mala cheia de novos sorrisos...