Era uma vez um pacote de açúcar.
Ele tem uma forma estranha e um valor impagável, é procurado no mercado negro, nos aeroportos e esquadras da polícia. Mas eu escondi-o bem. Muito bem.
Foi uma viagem difícil, sempre a suspeitarem de mim, a cheirarem-me um odor adocicado. Perguntas, muitas perguntas. Interrogatórios infindáveis, lágrimas de angústia apertada.
Era impossível fintar o pensamento. O pacote aparecia escondido nos sonhos de cinco minutos, acordava com as costas a arder em dor e pensava que tudo acabaria bem. Mas a viagem parecia contra mim. Os filmes tinham mensagens subliminares escondidas em cada diálogo, o jornal escrevia o meu crime em todas as páginas, o meu corpo e a almofada cheiravam a noites mal dormidas de tráfico açucarado.
Ás vezes tinha medo que descobrissem o meu segredo. Sou uma rapariga correcta que não se pode dar ao luxo de fazer coisas irracionais. Contrabandear pacotes de açúcar é crime, dá prisão. Fui muito influenciável, eu sei. Ele chegou-me com os seus olhinhos pequeninos (tens de abri-los quando te ris), com o seu sorriso fechado, discurso manso e pegajoso. Foi impossível resistir. Pareceu tão espontâneo, tão puro e simples, mas lá no fundo foi uma proposta cruel, eu sei. Foi propositada. Querias fazer-me enveredar pela vida do dinheiro fácil, dos sentimentos exacerbados, dos impulsos incontroláveis.
E agora aqui estou, com o produto do contrabando.
Ainda está escondido.
Tenho de libertá-lo e não consigo.
Sou uma criminosa. Mas estou a pensar ficar com a mercadoria para mim. Pelo menos por mais algum tempo.
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2 comentarios:
isto era capaz de ser uma ideia fantástica para uma curta metragem! :O adorei..=)
Sim, provavelmente por isso e
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