Fecha os olhos, espreme-os, cola-os apertados e conta.
Contar foi o método mais eficiente que ela descobriu para afugentar a raiva. A resignação. E eles obedecem-na, emudecem mal o desfile de números parte do seu cérebro em direcção ao além. Os espasmos irrequietos, a vermelhidão das bochechas se esbatem e as orelhas diminuem.
Conta. Recita números, qual poema de Alexandre O’Neill. Também ele viveu em Constância. A terra dos poetas.
Afasta os pensamentos com resoluções aritméticas. Prova, justifica, aplica, desenvolve. Já não existem questões simples. O o quê morreu em combate entre o quarto e o quinto ano. Entre a mudança de caligrafia e a introdução à era paleolítica.
Ela vê-se ao espelho e a sua imagem está desfocada, qual narciso no rio. Fosse pela distância ou pelo brilho da ponta branca dos sapatos que reluziam ao sol. Sapatos mimados que vão morrendo, congelando e esbranquiçando as pontas. Aquele liquido salgado que verte dos olhos, parece ter um efeito decisivo no plástico falsificado dos sapatos. Ela pensou que um dia deveria patentear o seu líquido de pupilas verdes.
A falta de visão era uma vergonha que, no entanto, não a impedia de contemplar o seu monte de farrapos desfiados e fora de foco. É uma questão de procurar o melhor ângulo.
Bonita, ela.
Um, dois, três, quatro, cinco…
Bonita, ela.
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3 comentarios:
Dentes bonitos são para sorrir, olhos bonitos também.
Bonita, ela*
:)
ps - este blog levou um re-style :O me gusta!
o quadro lembra-me semiótica. é melhor não olhar mais.. :x
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