15 septiembre 2007

povoada

As pessoas têm barrigas e mãos e unhas sujas. Têm pelos pretos a saírem de lugares estranhos, têm dentes fungosos, olhares cabisbaixos, olheiras fundas, gorduras acumuladas.
As pessoas têm hálito e gases, e suor nas mãos e nas costas. As pessoas falam e gritam e gemem e arrotam.
Por um momento não tenho sentidos. Sou uma bolha abstraída do mundo, desprezada pelas sensações, esmagada pelas peles flácidas a precisar de um pouco de cera quente.
Tenho nojo.
Repugna-me a maquilhagem berrante, as roupas justas demais, as discussões de aperta-empurra.
Mas é aquele o momento, não posso deixar escapar a sorte da solidão. Voem pensamentos, venham e saiam e rodopiem pelo ar. Cambalhotem por cima de mim.
Sou eu e é o futuro. E de repente acabou a pressão, o nervoso e as mãos a tremer. Acabou o “para amanhã” o “não vou conseguir” o “não posso falhar”.
Foi só um segundo.
Um bom segundo. Havia gelados e sorrisos e amigos e praia e Marques Mendes e José Sócrates e passeios e mar e perfume e dietas e havia também uma pitada de passado, com um ventinho de leve a refrescar o dia.
Agora sou grande e não posso olhar para trás.
Até porque tenho um sovaco peludo encostado à minha bochecha. Seria um golpe arriscado.
Ultima estação. Veste, arranja, normaliza.
E se não sentires que pertences àquele mundo. Sorri.
É sempre uma boa opção.

1 comentario:

Anónimo dijo...

Ei,
ainda estou na dúvida sobre os olhos azuis ;) --mas não sou eu. Não sei se felizmente ou infelizmente.

Não sou eu e pronto.

Bjo, até mais :o)