11 noviembre 2007

A caixa

Lembro-me de quando brincava às escondidas e o meu adversário entrava no quarto. Eu fechava os olhos, como se isso me tornasse invisível, e parava de respirar.
Ficava ali, de testa franzida e músculos paralisados, rezando para ser camaleão.

Quando vi aquela caixa, espremi os olhos, bem juntinhos, apertados e enrugados. E tenho a certeza que desapareci naquele momento.
Foi como se uma nuvem de ontem se misturasse dentro de hoje.
E o resultado era uma plenitude histérica.
O sorriso tinha barulho de borboletas e a barriga tremia junto com as pernas de dentes a brilhar. Não sei bem. Tinha todos os sentidos desorientados numa agonia de convulsões e espasmos escapatórios.
Era como se ali, dentro daquela caixa rasgada, pudesse encontrar a resposta.
Não podia mais esperar, era só dar um passo.
Mas tudo parecia tão surreal, como se uma corrente invisível me prendesse ao chão. Isto não me podia estar a acontecer. Eu nunca tive sorte nestas coisas. Belisquei-me.

O meu adversário saia do quarto. E eu sentia um calafrio de vitória a percorrer-me o corpo. Nunca fui boa a jogos. Não estava habituada a vencer.
Agora só faltava correr e gritar as palavras mágicas da felicidade infantil. Já tinha passado mentalmente o plano esquemático na minha cabeça. Estava decorado ao pormenor.
O primeiro passo era abrir os olhos.
Sai camaleão, mostra-te, faz-te forte, enfrenta o mundo.

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