15 noviembre 2007

Grândola

Estamos em guerra. Mais uma vez.
Escondam-se em vossas casas, activem os alarmes, tirem do baú aquele colete antigo à prova de balas.
Tiros e turbilhões de mensagens subliminares, vendavais de homens estendidos no chão e rios de sangue diante dos nossos pés. Não aquele sangue vermelho e brilhante, um sangue escuro, quase preto, quase de luto pela morte dos seus soldados.
A cera não é suficiente para proteger os tímpanos daqueles zumbidos ensurdecedores de tentação e luxúria. Quero falar e a voz não sai, o código morse parece-me tão pouco poético. Incerto e dúbio como linguagem construída para confundir os inimigos.
Em guerra é assim. O vencedor é quem resistir mais, quem matar com mais força e convicção os obstáculos que surgirem. E, às vezes, estamos tão próximos de morrer. O inimigo aparece, com falinhas mansas, e quase nos convence a darmos um tiro no próprio pé. Quase nos faz passar para o outro lado, desistir daquilo em que acreditamos.
E ultrapassada mais uma etapa, vem outra bomba, e outro um amigo morto em combate. Vem a falta de comida, a exaustão física. O caminho mais fácil está ali, nos outodoors de propaganda política, no sorriso dos casais recém formados.
Já não tenho família e escrevo todos os dias os meus princípios numa folha de papel para não me esquecer do que me trouxe até aqui.
Estou a chegar ao limite.
Quem sabe esteja na hora de desistir, ou talvez de invadir as rádios e pôr a tocar o “Grândola vila morena”.

“Eles também não tinham coragem.
Mas raptaram muitos entes queridos
E às tantas... já não dava”

2 comentarios:

Anónimo dijo...

"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena"
E se alma é grande chega para as batalhas, porque elas não duram para sempre. Não te esqueças que os soldados que sobrevivem voltam para os abraços da família. E voltam vitoriosos =)

Fátima dijo...

=) duas soldadas. uma cá, outra lá, as duas falam sempre uma da outra, e eu gosto de ouvir.
saudades