O tempo veio e transformou o amanhã num ontem muito distante. Partiu ao meio as fantasias sonhadas com os cabelos salgados. Mas há sempre um momento, aquele momento, que nem o andar do relógio nos faz esquecer.
Ensinámos os lábios, censurámo-lo, explicámos-lhe que não queríamos voltar a errar. Mas o pensamento é um aluno ranhoso, daqueles traquinas de óculos com fita-cola. Lá está ele, na fila da frente, numa insistência torturante:
- Diz, sente, faz, não omitas, diz, explode, corre, berra.
Para sempre é a expressão maldita dos amantes. Foi carimbada de vermelho há muito tempo atrás.
Mas há aquele momento, aquele um momento, em que o menino birrento vence a nossa autoridade rígida.
Aquele momento em que fechamos o cadeado, em que o pensamento pressiona, insiste, implora.
- Para sempre.
O menino limpa o ranho, ajeita os olhos e pergunta:
- Doeu?
Mas desta vez queremos mesmo que seja verdadeiro. Que não voltemos atrás, que não nos cresçam os calos. Fechamos os cadeados na expectativa de que o futuro seja um jardim de flores perfumadas, ou, quem sabe, uma longa conversa sobre o debate presidencial dos Estados Unidos. Está fechado. E engolimos a chave.
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2 comentarios:
Parabens! Vc esta escrevendo muito, muito bem!
Que orgulho ser mae dessa jornalista...
Bjos
Mami
oh=)
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