Ele está ai, escondido atrás das portas, como o pó e o cotão de um quarto recém arrumado. Ele chegará, um dia chegará. Ou pelo menos isso me dizem. De comboio expresso, avião de baixo custo ou ténis desgastados. Seja como for, naquele dia, o dia em que ele aparecer, se ele aparecer, vou correr para os seus braços, qual filme de Hollywood e, contrariando todas as expectativas, num twist absolutamente inesperado, vou dar-lhe um valente bofetão e perguntar-lhe enquanto bato com o pé de birra: “E onde estiveste este tempo todo?”
Onde estiveste nas noites de frio com a janela estragada, nas manhãs de preguiça enroladas no sofá, nos passeios pelo parque, no pequeno-almoço do café da esquina. Já busquei por toda a casa, nas gavetas do trabalho e nos bolsos do casaco. Revisei a lista telefónica e a loja do senhor Josito. Não estás, mas insistem em dizer-me que estás, que chegarás, que vens a caminho.
E eu sou menina teimosa. E, por capricho, espero. Pacientemente, aguardo que esta expectativa prolongada chegue ao fim. Que eu possa unir-me ao mundo neste sorriso pasmacento estampado na cara de todos aqueles que já tiveram o seu prémio.
Mas não te enganes, meu querido, não te enganes, porque quando chegares não te esperarão mil e muitas noites de amor ronhento e vozinha de charme. Quando chegares, se chegares, teremos muitas contas a ajustar. Porque isso de demorar tanto, meu caro, é uma falta de respeito. Os teus pais não te deram educação?
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