Ela gosta dele porque diz que ele é bonzinho. Ele não diz, mas gosta dela porque sem ela a sua vida não teria graça nenhuma. Eles reclamam, implicam e reviram os olhos. Dão beijinhos, abraços e gargalhadas em uníssono. Ela gosta de ténis e ele de futebol, ele de ler e ela de ouvir. Qualquer um diria que se completam. Ignorantes. Eles são tudo menos um cliché.
Desde que os conheço, proclamam orgulhosos que no seu vocabulário não existe nem “tu”, nem “eu” e então lá tivemos todos de aprender a conjugar os verbos em “nós”.
- Duh, que bobagem! – diziam os adolescentes com sentido de ridículo.
Deve ser defeito meu, de memória selectiva, mas olhando para trás, só me lembro de terem discutido duas vezes. Em ambas as ocasiões chorei em silêncio. Chorei porque queria que vissem o mundo pelos meus olhos, que percebessem que o que conta piadas tem de acabar com a miudinha que se ri, que a carinhosa termina sempre com o armado em machão e que o que lê a secção de politica precisa de alguém que lhe conte sobre o apartado das fofocas. E o resto são peanuts.
Mas, fosse como fosse, sempre que o mundo dava cambalhotas ali ressurgiam eles (ou deveria dizer nós) naquela imagem imbatível de duas mãos dadas pela vida. Pela vida e por um telefonema de feliz Páscoa.
Porque eles são assim, eternos.
Cresci pensando que seria fácil imita-los, ser feliz. Aos poucos e largos sofrimentos descobri que não, que não era tão simples seguir a sua fórmula secreta de sucesso eterno. Que era preciso mais do que um conhecimento correcto da gramática para aprender a conjugar os verbos na primeira pessoa do plural. Mas que por uma ou outra misteriosa razão, eles tinham encontrado esse plus.
Tudo isso, ou talvez esta seja apenas a visão torcida de uma filha babada.
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1 comentario:
Que orgulho dessa nossa filha babada!
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