12 mayo 2010

A ressaca do adeus

Mais um dia daqueles. Outro, outra vez, outro. E só ontem me passou pela cabeça que deveria começar a colecciona-los.
Guardaria o adeus em uma caixa azul com um grande laço de cetim. Já tenho acumulados tantos, muitos, demasiados. Poderia fazer com isto uma valente fortuna. O adeus de choro engolido e de choro chorado. O de abraço apertado que estala os ossos. Aquele que leva um beijo que jamais esqueceremos. O adeus contado e recontado em noites de ronha debaixo da manta do sofá. O adeus que vira as costas e não olha para trás. O que gira a cabeça. O adeus que se disfarça de até já e aquele que tem pressa e, quando vemos, já passou.
No fundo, o que eu queria mesmo era que o adeus fosse um bolo de chocolate. Que boa ideia! Coleccionar bolos de chocolate. Ou sacos recheados de gomas coloridas. Não, espera, que seja leite condensado comido à colher. Esquece, tanto faz, não me importa. Só queria que o adeus fosse doce. Docinho.
E se for possível, senhores lá de cima, queria que o adeus tivesse uma voz meiguinha e olhos de cão sem dono, que soubesse olhar, sorrir e abraçar. Sim, que o adeus soubesse abraçar. Queria que fosse um menino espontâneo, desses que caem na graça das avozinhas.
Porque eu presumo sempre que eu e ele somos amigos, velhos conhecidos de outras batalhas. Mas na verdade, e mesmo que ele pareça inofensivo e pouco amargo, há um dia que a ressaca chega. E de adeus passamos a tenho saudades. É o ciclo normal da vida. Ou isso querem que pensemos.
Se pelo menos a ressaca soubesse a bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro...

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