09 mayo 2010

Sonhatortilhas

Aquela capa preta de estrelas redondas separava-os do mundo. Usavam-na de refúgio para dias maus, de compensação para tardes de conversa em tom de nanas estrangeiras. Ali, naquele esconderijo em espiral, só existiam eles. Dois sonhatortilhas perdidos numa escola de crianças. Somiatruites que somiavan que el seu llit tenia ales. I a mitjanit despegavan i volavan, volavan i volavan.
E debaixo daquele manto de invisibilidade tudo era possível. Podia discutir-se sobre os tinteiros da impressora e o almoço daquela tarde, a salvação do mundo ou o valor do silêncio. Até podiam ficar calados. E essa era uma grande novidade.
Cobertos pela capa mágica, eram tudo o que sempre sonharam e negaram ser. Eram eles sem preconceitos, sem aquelas regras avassaladoras que os deitavam abaixo a cada momento. Eram versões melhores deles mesmos. Eram sonhatortilhas.
E quando aqueles dois ovos fritos e reboçados se escondíamos no cantinho do infinito, o relógio desaparecia do pulso e a razão fugia por uns instantes dessa posição líder. Não havia frio, fome ou sono. Eles eram demovíveis. Porque estavam ali para sentir. E sentiam forte. Sonhavam forte.

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