19 febrero 2007

aprender a voar

Há coisas difíceis de explicar e sentimentos impossíveis de falar. Mas como resumir uma semana de emoções contraditórias, olhos alagados, cabeça que rodopia e horas, horas e horas de sono por repor?
Como explicar a importância de tardes de sol friorento passadas a discutir a qualidade dos gelados, das raparigas que passam e dos motores dos carros? Como falar de ti sem mencionar o teu silêncio tranquilizador, o teu cheiro a cinzas verdes, a tua casa suja e a casa de banho na cozinha? Como pensar em ti sem sentir o teu abraço protector, a tua dança alcoolizada, os teus olhos vermelhos e a tua mão devagarinho na minha?
E não foste só um amigo.
Os “só-amigos” não aparecem em nossa casa sem razão nenhuma, cozinham-nos jantar e oferecem-nos chocolates; não nos ligam para saber se chegámos bem a casa e não nos limpam as lágrimas nas noites de vinho frisante. Os “só-amigos” não nos convidam para sair e não fazer nada, não nos esmagam de abraços a não dormem no sofá da sala do lado ao contrário. Eles não dizem que a nossa orelha não é assim tão grande e que os quilinhos a mais fazem-nos muito mais bonita.
E quando, no meio das tuas malas, protegido pelo teu sobretudo preto, me abraçaste e disseste “obrigado” resumiste aquilo que tenho estado a tentar dizer. Não foram as noites de loucura insana, de manhãs de olhos inchados e de tardes de mãos aquecidas. Não foram os passeios de crepes com nutella e suco de uva com gás, as eternas esperas pelo autocarro, ou a tua carinhosa mania de tirar-me os cabelos da cara.
Foram os sorrisos e as caretas, foram as zangas, as discussões. Foram as histórias incontáveis, os actos proibidos, os sentimentos contraditórios. Foram olhares de reprovação, beijinhos de conforto e socos de ira. Foi a Família que me acolheu na terra do Peter Pan, e, sem pedir nada em troca, fez-me entrar num conto de fadas.
Agora, a terra sem barreiras parece mais pequena e alagada mas, cada lágrima ( que teima, incessantemente, em cair ) vem acompanhada de um sorriso de covinhas, de um brilho nos olhos e de um calafrio de felicidade que diz baixinho que tudo valeu a pena porque vocês estiveram sempre, sempre, sempre, sempre lá a alargar cada vez mais barreiras e a ensinar-me a voar.
E, no fim, com as mãos a tremer e os lenços de papel encharcados, foste tu que me sussurraste molhadamente ao ouvido: “és especial”. Irónico, ahm?

2 comentarios:

Anónimo dijo...

il mio portughese è sempre meglio...penso avere capito l'essenziale cara mia :'(
E molto bello...come lo dici, ci sono cose che sono difficile da dire.... tanti baci amica mia;-)

Anónimo dijo...

Porque hj recebi um telefonema da terra das tulipas, eu sei que depois desta aventura o mundo ficou bem mais pequeno.
E aqui neste pedacinho de mundo "á beira mar plantado" esperamos por ti. Eu tb acho que és especial =)

P.S. Hoje fui ao café do senhor e as mesas perguntaram por ti. Disse que já vinhas.

Até já!