04 febrero 2007

È meglio cambiare, no?

É altura de por a questão: O que faz uma pessoa pegar na sua vida, empacota-la em malas pesadas, fugir dos seus amigos, da sua família, da sua realidade e aterrar num lugar estranho, misterioso, desconhecido?
A questão persegue-nos e traça, insistentemente, características marcantes que unem, um a um, cada estudante expatriado.
São vidas incompletas, são sentimentos contraditórios, são necessidades inegáveis de experiências novas, de fuga à censura e ao mundo fechado que impede cada um de ser aquilo que quer. São problemas familiares, são namoros demasiadamente longos, são meninos rejeitados e dotes de dança por estrear.
Pousadas as malas, o mundo é teu. Podes criar a tua histórias, reescrever a tua personalidade, moldar o teu carácter e recomeçar do início o teu livro de aventuras. São escolhas, costuma-se dizer. Mas mais do que um lugar comum, está é uma sábia verdade.
Muitos são aqueles que não sabem porque vieram. Aparecem com uma lágrima no canto do olho, com contas de telefone absurdas, falam-nos das suas vidas perfeitas e de como custam as saudades. O tempo vai passando, e com ele as escolhas tomando forma. Escolher viver sem limites, numa base quotidiana de entrega total onde a vida ganha um novo sentido e a cada dia o fosso que marca a distância é maior? Escolher noites de pijamas com bolachas e filmes acompanhados de uma útil dor de garganta e a desculpa das aulas no dia seguinte?
São escolhas incensuráveis, são caminhos a seguir. Mas o importante é saber que aqui, nada é definitivo, e o outro lado do rio terá sempre as suas margens verdes e acolhedoras prontas para te receber, sem perguntas e sem cobranças; sem um olhar desconfiado nem um sorriso torto.
E, se a vida é feita de escolhas, quando se aproxima o fim é extremamente fácil responder à questão inicial: “ È meglio cambiare, no?”

1 comentario:

Anónimo dijo...

"... quase sinto que vocês me conhecem melhor que os meus amigos de sempre. Isso é estranho e ao mesmo tempo assusta-me constatá-lo.
--- Sim, é verdade - concordou Hristo - E acho que tal sucede, em parte, porque aqui se revela a nossa verdadeira personalidade. Perante nós e perante os outros. Chegámos cá sem conhecer ninguém e isso faz-nos sentir, pelo menos a mim fez, que tudo o que conseguissemos este ano seria apenas o reflexo do que intrinsecamente valemos enquanto pessoas.
--- Pois é... aqui não há familias, laços afectivos ou estratos sociais... Enfim, parece que não ha passado. E como é um ano isolado no tempo, somos dominados por uma libertação que impulsiona a que de nós saia o que de melhor e pior temos cá dentro - concluiu Francisco."