20 junio 2007

dor

Às vezes dói-me a barriga e apetece-me um chá quentinho.
Um chá que escalde os órgãos abraçando-os como uma manta acolchoada que lhes oferece uma vida leve e ditosa. Os defeitos são saltinhos transparentes e as falhas um charme escondido na ilha do tesouro.
Quando a barriga dói fecho os olhos com muita força e rogo para que continuem a uma velocidade alucinante.
E, como quem não quer a coisa, às vezes consigo teletransportar-me para um mundo alternativo onde não existem incompatibilidades, mas apenas uma vida divertida de passeios e tardes no jardim.
E tudo é possível.
A barriga aperta, contorce-se, dá lágrimas nos olhos e pede para parar.
Mas já se foi o tempo em que o masoquismo era condenável. Agora a automutilação é uma prática social que permite aos jovens atingir o nirvana e rirem-se das vidas alheias.
Sou jovem (e odeio essa palavra).
Insisto e estimulo a dor, espicaçando-a ao limite.
Já quase não consigo pensar. A cabeça gira e percorre um mundo surreal com passos inaudíveis rumo ao perigo iminente.
Estou a senti-lo.
A dor latejante avisa-me que estou à beira de um precipício vertiginoso.
Vou cair.

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