01 octubre 2007

o Trigésimo

Hoje vou contar uma história.
Um dia conheci um rapaz, ops, não foi um, foram 30.
O primeiro era divertido, o segundo eu achava um pouco infantil. O terceiro e o quarto usavam roupas largas e andavam de skate. O quinto era gordo e o sexto roçava a obesidade. O sétimo era bastante inteligente e o oitavo era tão arrogante. O nono passava horas a conversar à porta da minha casa e o décimo nunca se esquecia do meu aniversário. O 11º sabia que em jornalismo a partir do 11 se escreve por números. O 12º desenhava tão bem e desperdiçava tanto as suas capacidades. O 13º cresceu. O 14º mostrou-se interessado nos meus interesses e o 15º ria-se das minhas histórias. O 16º e o 17º eram tão esquisitos e cheios de tiques. O 18º nunca desistia. O 19º dizia que com calções não se pode atar os sapatos e o 20º deitava-se sempre na areia.
O 21º era tão carinhoso. O 22º e o 23º andavam sempre juntos, um adorava música e cantava baixinho, o outro bebia muito e fazia serenatas para a vizinha inglesa. Dizem que o 24º era um pouco banana mas ele defende-se dizendo que estava apenas apaixonado. O 25º gostava de gelatina amarela. O 27º ralhava e o 28º estimulava-me a ser melhor. O 29º, coitado, ficava antes do 30º e então sempre teve medo do seu futuro.
Esse tal de Trigésimo (os nomes próprios são por extenso) foi o meu preferido. Se calhar sou uma criança iludida que acha que o último presente é sempre o melhor. Mas o Trigésimo foi um presente inesperado. Ele veio muito bem embrulhado, cheio de fitas de laçarotes. Entregaram-no na minha casa com um casaco de couro castanho e um carro sem o espelho direito. Era como aquele presente que vamos abrindo e abrindo até encontrar a prenda a sério. Tinha um embrulho bonito e eu fiquei interessada. Fui me aventurando e encontrei uns papeis rasgados e umas fitas-cola difíceis de arrancar.
Insisti.
Não foi fácil abrir aquele presente. Ameacei deixá-lo e desistir. Quem foi a pessoa que teve a ideia de o embrulhar tão bem?
Mas ainda bem. Senão já teriam o descoberto, posto em leilão e licitado um preço muito mais alto do que o que posso pagar.
Era baratinho aquele presente. Era daqueles simples e úteis. Inteligente esse tal presente. Foi conhecendo-me e tornando-se indispensável. Aparecia em casa quando estava cansada e ajudava-me a adormecer, deixava-me escolher os caminhos e impunha-me sempre a sua música. Ele começou a meter-se no meu bolso e na minha mala, nos meus ténis sujos e no meu top colorido. Enfiou-se no autocarro cheio a segurar as sacolas das senhoras e nas aulas de filosofia enquanto discutia politica. Ele era o computador e era o livro que estava a ler, era a cor do verniz e a fruta da sobremesa. Meteu-se na minha vida e infiltrou-se no meu perfume e nos brincos que usava, nos amigos que escolhia e nos objectivos que traçava. Mas o pequeno presente, que é tão quietinho e que fala pouco, virou-se para mim e disse: um dia vou materializar-me. Então eu acho que vou ficar à espera, porque depois de tanto trabalho estou um pouco cansada para voltar a desembrulhar outro primeiro.

5 comentarios:

Anónimo dijo...

Tudo no seu tempo...
Fases...

Anónimo dijo...

o que é isto?!!? o anónimo sou eu!!! que post tão querido! isto do dr house não da com nada...és mas é um piguim. e os pinguins merecem muuuitos presentes (até pk n falta muito para fazerem anos) =P

ps: acho que o presente mais importante é o 18

pps: (alguns presentes são de graça)*x30

Anónimo dijo...

O melhor post de todos. Não há nada como uma boa inspiração, a melhor inspiração de todas, I guess ;)
Não percebo quem é o "verdadeiro anónimo" mas tá a usar as minhas deixas todas!! quem fala de house e pinguins sou eu! sinto-me traída!

Anónimo dijo...

ai ai enes....eu sei do que falo! deixa as MINHAS EXPRESSÕES em paz :P

ok vdd seja dita, dou t crédito pelas expressões. és só miminhos hahahaa

ps: (para o House: nunca te esqueças que tens sempre tudo a que tens direito...)

Fátima dijo...

bolas.. tambem quero um trigésimo=)