Que raio de ideia essa tua.
Estanhos os rumos que a vida tomam.
Éramos tão fresquinhas e inocentes. Tão idealistas e sonhadoras.
Ela pequena e frágil. Eu excêntrica e hiperactiva.
Mas lá estava ela todos os dias no comboio. No carro. Nos auditórios. Nas horas do almoço. Na hemeroteca. Na esplanada amarela.
Nos cafés. Na praia. Nos restaurantes. Nos concertos. Na baixa. No meu caderno. No telemóvel. Nas notícias do jornal. Nos cartões postais da viagem. Na minha Neverland.
No meu quarto.
Lá estava ela na minha vida.
Foi entrando devagarinho e partilhando das minhas indignações. Ensinou-me a ser mais tolerante e comedida. Menos veneno e mais perfume. Ela nunca diz mal de ninguém.
Mostrou-me como se vê as coisas com bons olhos, como se acredita nos sonhos e num futuro melhor. Como se luta e se conquista.
E quando voltei ao mundo foi a ela que telefonei.
E foi ela que me arrancou uma lágrima cruel ao desligar o telefone frustrado.
Foi ela que estava lá a rir-se da minha racionalidade estúpida. A incentivar um mundo de leite-creme derretido, um futuro possível, um sonho quase real.
E é a opinião dela que conta quando as coisas apertam. E é dela que tem de sair o “está óptimo, vais conseguir”. E nessa altura quase acredito que seja verdade.
E, não, eu não sou lésbica.
Era ela que sabia o que eu tinha almoçado e o que eu trazia vestido. Que sabia na ponta da língua que sou chata e rabugenta e que fervo em pouca água. E que discuto e esperneio e grito. Mas não se importava, porque não vale a pena. Ela também sabe que não vou mudar isso.
E não posso ter saudades nem dizer coisas queridas. Porque os amigos completam-se e essa parte fica para ela.
Ela um dia (triste esse dia) escreveu-me uma carta. E nessa altura descobri que não há mais ninguém no seu lugar. E eu vou só fazer uma correcção. Porque não podia fazer um post sem resmungar. Pega naquela tua carta e tira a palavra “provavelmente”. A tua prima não se vai importar. São tipos de amigas diferentes.
A minha mãe diz que eu só tenho amigos rapazes. Mas ela queria ser uma princesa quando era pequena.
Tornou-se biscoita e salsicha fresca. Parideira e meloa.
E para quem não sabe, aqui vai um segredo.
Ela odeia que a belisquem. E é tão giro vê-la chateada.
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4 comentarios:
- Lágrima no canto do olho (snif)...
Foste embora e passado uma semana tirei o "provavelmente", era era oficial.
- Duas ou três lágrimas nas bochechas...
Fazes uma falta danada.
- Vou buscar um lenço...
Tenho saudades tuas e os amigos são amigos, mas há sempre qualquer coisa que não lhes digo, mas que diria a ti. "Guardo este bocadinho mais sincero para a Marina. Eles não perceberam a piada, mas ela percebia. Eles não acham giro, mas ela ia achar."
- Lixe-se o lenço. Elas escorrem mas num sorriso*
"Ela nunca diz mal de ninguém."
mumumu, senhora Marina? :)
é bom ver amizades assim...faz nos acreditar outra vez
logo no primeiro parágrafo se nota pra quem é =))
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