É como aquele vestido branco no fundo do armário. Ele fica-me bem, a sério que fica. Até o meu pai gosta! Mas eu nunca o usei.
Não é que nunca o tenha usado mesmo. Usar do verbo usar. É que nunca lhe dei uso.
Ele tem um problema. (Já disse que me ficava bem?) É que não é lá muito oficial.
É comprido mas não o suficiente. Tem brilho, mas às vezes brilha demais. Ocasionalmente, aquelas costas abertas parecem-me um pouco desnecessárias.
E depois há o problema dos sapatos. Eu até poderia usar com aqueles meus sapatos brancos novos, mas nunca me apetece. Tenho vontade de comprar uns sapatos vermelhos e pôr um batom. Mas depois acho que não cai lá muito bem. Opto pelas sabrinas pretas e malinha a condizer a tira colo. Mas acabo sempre com a ideia de que é meio sem sal.
De facto, é apenas uma questão burocrática.
Mas na prática é tão mais complicado do que isso.
Passo noites a pensar naquele vestido branco. Em como desde o dia em que o experimentei na loja, tive a certeza de que seria meu. Eu sou bastante possessiva quando se trata de vestidos. Obriguei a senhora a prometer-me que não encomendaria mais nenhum vestido, porque queria que o meu fosse exclusivo. Cheguei até a voltar lá umas tantas vezes para me certificar que não havia vestidos brancos à venda. E nada. Senhora honesta, como já não se vê por ai.
Lembro-me também das vezes que o usei. Parecia perfeito. Todos elogiavam o meu vestido e a minha escolha. E eu sentia-me realizada. Queria pô-lo todos os dias e dizer ao mundo que era meu e só meu. Fazer ciúmes e snobar os outros.
Mas houve um dia em que a moda ditou: vestidos brancos? Totalmente fora.
E o vestido ficou ali, no fundo do armário à espera que um dia, quem sabe, possa torná-lo oficial novamente.
E, enquanto isso, torturo-me devagarinho cada vez que dou por mim a olhar para outros vestidos nas lojas de marca.
Suscribirse a:
Enviar comentarios (Atom)
1 comentario:
hmmmmm... isto é uma metáfora altamente intrincada...
Publicar un comentario