Um momento congelado. Ele olha-me de olhos inexistentes, daqueles que só ele sabe fazer. Os meus estão salgados, mas isso nem é preciso mencionar.
Eu não queria ter dito aquilo e nem sei porque tudo começou.
Não, isso não é verdade. Eu lembro-me bem do princípio desta história.
Aconteceu no dia em que ele tinha olhos grandes e os meus estavam, surpreendentemente, salgados. Os dele olhavam envergonhados para baixo, e os meus para cima, num piscar superior de quem quer fotografar o momento.
O chão estava frio e a noite cheirava-me a cerveja derramada, camisa azul clara e suor nervoso.
Algo foi dito e, de repente, os seus olhos mudaram. Foi-se-lhe a expressão e aquele brilho lubrificado que nutria os escassos centímetros que lhe separam a as pálpebras dos cílios. Por momentos, juro que nevou. E então os meus olhos, mal-educados, deixaram de saber para onde olhar e escorregaram para baixo.
Foi nesta dança de olhos vagabundos que se fez um olhar. Aquele a que nos fomos habituando a ter.
E agora estamos aqui, entre o salgado e o inexistente, tentando olhar-nos outra vez.
E sei que a culpa toda foi daquele dia.
O dia em que olhar pareceu tão fácil.
Suscribirse a:
Enviar comentarios (Atom)
2 comentarios:
Adoro seus textos! Vc deveria ter me falado antes que tinha um blog.
Beijocas
OH. =) é sempre culpa de alguma coisa... e é bom
Publicar un comentario