21 enero 2009

A primeira página

Tocaram o sino como na época da escola. Como aquela octogenária doente no terceiro andar da sua mansão. Acudia-lhe uma empregada fardada, de sapatilhas antiderrapantes e uma bandeja de prata.
Mas este sino era diferente. Dele não vinham alunos suados, nem amas do lar alinhadas ou sequer um padre para começar a missa. Vinham pessoas normais, daqueles ídolos estranhos que fomos aprendendo a criar. Iam enchendo e esvaziando aquela sala de veludo verde. Do seu discurso, só um comentário: compro.
E assim se negociavam palavras, linhas e até vírgulas.
Compro.
E daquelas compras saíam vendedores satisfeitos, compradores que se sentiam burlados. Saíam homens a correr, outros em passo lento, indiferente. No ar pairava uma angústia corriqueira, daquela que dorme por baixo da almofada. Os minutos corriam em contra-relógio e quando contavam os 54, fim.
Desta vez sem sinos, nem despedidas. A sala esvaziou. Ficou apenas o silêncio e o veludo verde que adornava aquela primeira página.
A que um dia fará história.

2 comentarios:

Francisco Maia dijo...

e futuro más cerca, compras?

Francisco Maia dijo...

xiiii tb quero...quero ver alguém a cortar o take perfeito num filme a sério...

porquê 54min?