Somos duas moscas. Desculpa dizer-te isto assim sem preparação prévia, mas chegou a hora, não posso guardar mais este segredo.
Sim, enfrenta a realidade. Alimentamo-nos da nossa própria matéria em autodestrução, dos fotogramas futuros impressos em tardes de cinema, das promessas de amor engolidas com um copo de coca-cola, daquelas pequenas pinceladas de realidade que não queremos deixar sucumbir.
Somos um insecto pequeno, preto e asqueroso. Apenas uns centímetros de carne esponjosa e peluda que descansa em excrementos. Um animal irracional que já nasce com data de caducidade, que é como quem diz, com um obituário escrito e a tumba montada. Somos alimento de outros bichos, assunto de conversa nas mesas dos cafés.
- Raio da mosca!
E da-lhe uma patada e outra e outra ainda. E nós ali, heroicamente, aguentando um e mais um safanão. Porque somos assim, sempre o fomos. Fatídicos, autodestructivos, masoquistas. E persistentes. Insistimos, achamos que um dia conseguiremos contrariar a lógica. ¡Ingénuos!, nós.
E, como moscas que somos, a nossa morte aproxima-se, já sabes, nascemos para isso. Pensa bem, não há jornada que não termine, nem vida que não pereça. E então aqui estamos nós, mutilados, feridos e humilhados pela fragilidade humana e pela imbecil crença de que seremos melhores, super heróis modernos com poderes mágicos.
Não engonhemos mais. Que venha logo a morte e acabe, com uma facada definitiva, esta desgraçada, intensa e longa vida de uma semana que tivemos.
Fim, escreveu-se com letras de sangue.
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1 comentario:
"Splat!!" - diz o ego.
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