20 enero 2010

Um dia

Ela, que guardava numa caixinha de cartão todas as cartas que nunca tinha enviado. Todas as que nunca tinha tido a coragem de selar. Que fazia planos debaixo do chuveiro e cantava para si mesma antes de adormecer. Que acreditava que a felicidade tinha cheiro de chá de camela com raspas de laranja, que coleccionava sonhos de algodão doce. Ela, que nunca usava saltos altos para poder estar mais perto do chão, que quando punha saias passava o dia a rodopiar, que acreditava na bondade humana. Ela, que passava horas a ensaiar hipotéticas conversas futuras, e eu digo, e ele diz, e eu respondo. Ela, que nunca tinha coragem de dizer o planeado. Ela, que quando fechava os olhos via azul, um sorriso rasgado e um domingo na lareira. Até.
Até ao dia.
Até que ela
Um dia.
Acordou para a vida.

1 comentario:

i dijo...

hey!!!! volta pa trás! gosto mais da outra!