Não nos entendemos. E isso parece importar tanto.
Aquilo da gramática universal não existe. Tonterias. Já apelamos ao inglês, ao espanhol e ao italiano. Já tentamos o esperanto e a linguagem gestual. Nada funciona.
Fomos então pedir um remédio a um médico especializado nesses males. Queríamos curar-nos da doença de Babel. Doença rara, disse.
Como solução surgiu a indiferença.
Seguimos levando a vida como se enfermidade nenhuma houvesse. E do desprezo veio a cura. Sentíamo-nos comunicados.
Mas a língua estrangeira é um eterno terreno escorregadio. Há que usar meias antiderrapantes.
E naquele dia esqueci-me. Que tamanho tropeção!
E caímos juntos, torre abaixo, numa cambalhota gigante de água salgada e soluços debaixo do lençol.
Foram-se as regras gramaticais nunca escritas, as muletas linguísticas que nos caíam tão bem. Sujou-se de lama o livrinho de vocabulário que levava na mala, aquele sorriso feito sem pensar, a frase sem sentido tão comummente compreendia.
Havia que começar de novo. Que reescrever as regras.
Mas e se não nos entendermos?
Dizem que está aí o mistério.
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