15 mayo 2007

Ditadura da felicidade

Hoje não quero ser feliz.
Tenho esse direito.
Há dias bons e dias assim-assim, dias maus e dias piores. Há dias absolutamente detestáveis.
Vou coser os olhos, com uma linha bem grossa, tatuar na testa uma fase de revolta, cortar as cordas vocais e deixa-las descansar. Hoje não sou ninguém.
Se as pestanas teimarem em abrir, os olhos irão jorrar sangue e manchar o lençol da cama. Se o sorriso quiser forçar, os dentes vão apodrecer com a luz do sol e, se o sentimento quiser fingir, ninguém me vai poder escutar.
Queria ser uma régua, uma fita métrica. Queria ser um calendário e poder riscar os dias sem que ninguém desse por nada. E se, de repente, hoje fosse já amanha?
Queria ter o poder de mudar o mundo.
Vou fazer uma revolução e acabar com esta ditadura. Destronar esta rainha absoluta de risos parvos e gargalhadas forçadas. Quero expelir um líquido verde e sujar as bandeiras brancas de paz. Hoje quero guerra.
Chega de ser politicamente correcta, socialmente aceite, amigavelmente integrada. Quero ser um bicho social de olhos cinzentos e feições apáticas. Vou deixar o meu cabelo transformar-se numa frigideira de óleo usado, e vou gritar grunhidos de horror para aterrorizar criancinhas ingénuas e desprotegidas.
“Então, tas boa?”
“Sim, tudo bem, e contigo?”

1 comentario:

Anónimo dijo...

provavelmente a coisa mais triste que eu já li