Perturbas-me.
Não preciso olhar para a porta para saber que chegaste, leio o teu nome no vento que passa. Tu ainda usas o mesmo perfume.
Olhas-me com o olhar que fazias aos estranhos, fazes-me caretas de desdém e contrais os músculos para explicar que estás com raiva. Desprezas-me.
O tom da tua voz oscila, daquela maneira que eu conheço, e tens o cabelo penteado para o lado errado. Já te disse que esse penteado te fica mal.
Não me odeies.
Eu não sou isso, eu não quero ser uma memória passada, uma lasca de madeira que incomoda mas não sai da ponta do dedo. Não quero ser aquele olhar de berros, nem o número proibido na lista telefónica. Não.
Faz calor, muito calor. A voz sai desinibida e as fronteiras são canceladas por copos de brindes inócuos. Tentei tocar-te. Tu desviaste-te como quem foge do arrepio da água fria nas manhãs montanhosas de camas quentinhas e lençóis de flanela.
Ama-me.
Baixinho e tranquilamente. Faz de mim uma palavra não dita e transforma-me em conversas de café. Não quero ser pessoa. Quero ser palavras. Mas não daquelas escritas nos jornais e nos suplementos de sexta-feira. Quero ser aquelas palavras proibidas, daquelas que invadem os sonhos e que viajam pelas entrelinhas dos filmes de domingo à tarde.
Cria um lixo mental e põe-me lá dentro.
Por favor, recicla-me.
E, naquela noite, trazias uns ténis castanhos. Sim, eram aqueles que eu te ofereci.
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