Apareceste com o teu dentinho preto, cabelo vermelho-pintado e unhas de verniz estalado. Fechaste-te no teu quarto e transformaste-o numa caixinha desarrumada de papéis, lixo, cabelos, comida e cheiro intenso de enxofre suado. Dormias sempre mais do que devias e faltavas às aulas por capricho. Cozinhavas sempre pimentos e nunca chegaste a fazer o cartão da cantina.
Vou sentir falta dos programas de adolescentes à hora do almoço, de me irritar contigo por nunca levares o lixo, de comer os teus chocolates e de rir, rir, rir até chorar com jogos de rum-cola e copos de plástico com canudos gigantes.
Nunca mais vou poder culpar-te pela luz acesa nem pela casa desarrumada. Não vou poder reclamar da sujidade e dos teus grunhidos monossilábicos. Não te vou ouvir chegar aos tropeções embriagados nem fazer-te o olhar responsável quando misturas o branco com o preto na máquina de lavar.
Quem te deixou entrar na minha vida, sujar a minha casa, criar uma rotina de chá com leite e Nutella com pão e agora simplesmente pegares nas malas e não voltares nunca mais?
Quem te deixou esvaziar o quarto, empacota-lo e leva-lo para fora da nossa casa (tão acolhedoramente) suja e desorganizada?
Quem te deixou tornares-te minha amiga e fugires sem pedir permissão?
Pelo menos deixaste os biscoitos.
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2 comentarios:
Aqui estão todos a ir. Dia após dia, há sempre alguém para dizer adeus. "não se diz adeus, diz-se até logo!". Mas é mentira. Mesmo assim é o que dizemos.
tu também deixaste a casinha e nem me deste um gorro colorido...
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