Às vezes queria saber não pensar.
Quero congelar o cérebro com sprays de azoto (que deixam cicatrizes eternas), fazer um botox nos músculos da minha cabeça.
Acho que penso demais.
Se o meu cérebro fosse um marasmo azul de pensamentos vazios, poderia viver a sorrir e a cantarolar na rua ao som dos assobios do vento.
Que cessem as vozes histéricas que sussurram ideias e reprovações. Que exigem excelência e brilhantismo.
Quero ser comum.
Caminhar na rua e sentir-me abraçada por essa massa uniforme e pegajosa de pessoas corriqueiramente vulgares e desprezivelmente iguais. Ponham-me uma coleira, domestiquem-me como um cão.
Um fio de baba escorrega-me pelo canto da boca, uma apatia revela-se no profundo dos meus olhos e um sorriso brota dos meus dentes desleixadamente espalhados pela gengiva inflamada.
Quero pôr mensagens de amor na internet e receber flores com corações, quero dizer bebé e fofuxo, quero ser pirosa. Muito pirosa.
Vou passar a ir ao futebol e a usar brincos dourados. Chegou, decididamente, a altura de intercalar o meu discurso gramaticalmente ofensivo com asneiras de afirmação juvenil.
Chega de filtros e de julgamentos prévios. Serei o que a moda ditar, junto com as botas de pêlo e os jornais gratuitos.
Tudo isto porque não quero mais pensar.
De que vale defender a diferença num mundo de clones televisivos? De que vale fomentar o raciocínio numa sociedade onde ou és tudo ou és nada? De que vale seguir o caminho poeirento quando se conhece a existência dos lagos, da nuvem e do sol?
Quero participar num concurso televisivo e dar um beijo ao Henrique Mendes.
Mas, por favor, não me ponham a trabalhar num suplemento cultural.
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2 comentarios:
Serás sempre especial, força!
tu não achas mesmo isso =) são só momentos
(e mesmo que tentasses, não me parece que fosses conseguir)
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