Acusam-me de nostálgica, de sentimentalista.
Como não o ser?
Numa conversa ao telefone onde, por segundos, tudo volta atrás. Não há problemas, intrigas, professores e carreiras futuras. Não há acordar cedo, nem aulas, nem desculpas, nem mundo.
Existimos somente nós.
O telefone toca e o mundo se extingue num dissolver absoluto do exterior, numa chama que consome tudo o que é vida e torna inanimado qualquer distúrbio aparente transformando-o em algo completa e absolutamente superficial. Existimos nós e tudo o resto é lentamente mastigado e ignorado pelas palavras entusiasmadas do outro lado da linha.
Vemos o mundo com desprezo e superioridade.
Aquilo que acontece ou aconteceu, aquilo que pode ser falado ou recordado é de tal modo insignificante que nos faz rir. O mundo somos nós e todos o sabem. Nós e as nossas histórias incontáveis, os nossos segredos engarrafados, as nossas emoções inaladas numa noite qualquer.
Agora cada noite qualquer deixa de ser especialmente vulgar e passa a encher-se de cheiros e sensações passadas onde o acordar é feito numa língua estrangeira, com os cabelos despenteados e os olhos enlagrimados.
Não estou triste nem nostálgica, queria somente que o resto do mundo pudesse compreender aquilo a que nós chamamos de saudade.
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