Estava ali, sentada, olhos fixos em narciso, pensamentos que voavam e pousavam no reflexo do espelho da vida passada.
Foi apenas um abanar da cabeça. A tesoura cortava as noites de insegurança de menina pequena, o leite quente para dormir melhor, os telefonemas de beijinhos e tolices amorosas. A ferida espalhava-se pelo chão de cabelos e madeixas e a cada golpe tudo se tornava mais leve.
O tremor apoderava-se dos meus membros enquanto o sangue insistia em circular nas bochechas, e os lábios persistiam num sorriso de dentes amedrontados.
E no fim, banhada de vermelho do passado, assumi publicamente a mudança. Chorei pelos bons momentos, lavei-me daquela mancha de pelos coloridos e multiformes e, quando olhei para baixo, para um solene último adeus, já os tinham varrido.
Adeus. Gostava de me ter despedido melhor. Pelo menos teria sido mais difícil. Vassoura estúpida.
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