Hoje tinha monstros na cama. Eles comeram-me o sono.
Vira, rola, remexe, ajeita. Muda de lado, sente calor, levanta, senta, roda.
Os monstros têm caras e elas são aterrorizadoramente familiares. Não assustam mas fazem tremer. E, se tentarmos fugir, partem a mobília antiga.
É melhor ter cuidado.
Rompem, sem avisar, a pacatez da madrugada. Invadem-nos o pijama e despenteiam-nos os cabelos.
Chegam, assim, com um ar confiante, de quem vai dominar o mundo. Preferem os discursos decorados de horas de olhar fixo na parede branca. E, no fim, deixam-se ficar.
Ficam porque os convidamos para um gelado nos dias de sol, porque sorrimos sempre que vemos o seu nome na lista de contactos, porque conversamos sobre pirilampos quando o assunto se torna constrangedor.
Ficam porque se criam códigos de conduta. Todos sabem que não se fala de coisas sérias durante o dia, que não se chora de pé e que quando temos vergonha escondemo-nos por trás da, outrora vasta, cabeleira. São regras, não é preciso explica-las.
Vão acomodando-se na nossa rotina e confundem-nos os sentimentos.
Sai, monstro assustador, fica.
Mas estes bichinhos malditos fazem perguntas e exigem respostas.
Frases de poder mágicos que fazem ping-pong na nossa cabeça e misturam as listas de prós e contras (que tinha dado tanto trabalho a fazer)
São momentos soltos de sentimentos e impulsos. Instantes torturantes de sono acordado onde a cada ideia uma imagem, a cada imagem uma sensação. Chora, ri, faz ou fica?
Eu sempre soube que não deveria dormir com as meias calçadas.
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