Há dias em que chegamos a casa, deitamo-nos na cama, ainda desarrumada das remelas matinais, e cerramos as pálpebras.
As gotas que escorrem das pontas dos olhos não são sempre significativas. O importante é que, enquanto a lágrima salgada marca o percurso no nosso rosto, um pedaço de pele se torna mais profundo e flácido, mais denso e amarrotado. São rugas de sentimentos sem razão, de dias sem porquê, de tardes de sol debaixo de cobertores.
A todos já aconteceu chegar um dia do trabalho ou da universidade, do café ou do cinema e pensar, “isto não tem sentido”.
Pensar que a vida corre descontroladamente, que as rédeas estão enroladas em um ponto qualquer, que o mundo é surdo e que, por mais que lhe gritemos, ele continua, inerte, com o seu sorriso esboçado de quem gosta de troçar connosco.
Concluir que nada do que fazemos é suficientemente profundo, suficientemente inteligente, suficientemente bom, suficientemente sincero. E por que teria de ser?
Mas as expectativas são altas, a pressão se intensifica e o olhar de desilusão corta e faz ferida. Não me quero lembrar. Sai daqui, malévola recordação.
Vem, leva-me, resgata-me, tira-me, faz com um telefonema seja pleno, com que as promoções tenham uso, com que as novidades tenham destinatário.
Revela-te, descobre-me, sai desse mundo de véus e fantasmas, dessa casa do além, desse jeito inatingível. Torna-te humano e faz-me chegar a casa, deitar-me e, finalmente, sorrir.
Suscribirse a:
Enviar comentarios (Atom)
1 comentario:
mas será que não sabes que hoje não é dia de estar triste?
Publicar un comentario