01 abril 2007

cabeça prolixa

Eu falo sozinha. Eu falo muitas vezes sozinha. Eu falo descontrolada e compulsivamente sozinha.
Sempre achei que tivesse um problema. Mas não.
Uma vez conversava com um amigo. Ele é daquelas pessoas estranhamente especiais que só se conhecem em circunstâncias ridiculamente caricatas e com quem só se tem conversas absurdamente divertidas.
Chega de advérbios de modo. Voltemos ao meu amigo.
Nesse dia, enquanto me tentava convencer que jantasse em sua casa, explicava-me que estar consigo significava nunca estar triste. Não porque ele fosse uma pessoa extremamente optimista e hilariante mas porque não precisava de mais nada para se divertir, somente dele próprio. Era com ele mesmo que conversava e com quem ria horas a fio. Era ele o seu confidente e companheiro. Ele era a sua melhor companhia.
Esquizofrénico, talvez. Autista, sim.
Às oito horas em ponto toquei à sua porta com uma sobremesa na mão. Ele recebeu-me com um sorriso. Como sempre.
Mas o que fazer quando o nosso “eu interior” não tem a sorte de ser divertido e companheiro como o do meu amigo? O que fazer quando não existem momentos de silêncio; quando temos uma cabeça prolixa que nunca fica rouca?
As minhas conversas passam-se numa língua neutra que oscila frequentemente entre sotaques e referências, que se atrapalha com nós mentais que precisam ser expressados.
A minha cabeça não diverte, confunde.
Misturam-se as ideias e entrelaçam-se as histórias. Os heróis aparecem em cenas utópicas de sonho e fantasia. As palavras têm gostos e sentimentos, têm humor e sensações.
A minha cabeça vicia. Ela é possessiva e egocêntrica. Quando teima em falar, abafa as vozes alheias, desliga o rádio, acaba com a música, dispersa o olhar de amigos monótonos. Monopoliza o corpo e pensa, pensa, fala, fala.
Perguntam-me como consigo viver no silêncio.
E eu respondo. Tivessem vocês a minha cabeça, compreenderiam.

1 comentario:

Anónimo dijo...

non sono molto brava...anche se ho il nuovo "metodo integrale" per imparare il portugese...NON CAPISCO (QUASI) NIENTE;-)
bisogna studiare hihihihihi
Baci.

Pera