19 abril 2007

uma dor fraquinha

Estranhas as pessoas.
Elas entram e saem do nosso pensamento a uma velocidade alucinante. Elas ficam e fogem da nossa vista sem que possamos dar por isso. Elas sobrevivem graças a mensagens electrónicas, cartões postais na caixa do correio. Elas transformam-se em imagens, memórias, pensamentos.
São luzes laranja a piscar no fundo do ecrã do computador, fotografias de noites passadas, textos em blogs de línguas interditas.
As pessoas são feitas de matéria maleável e transparente que se transforma em bilhetes de avião e em chamadas telefónicas (algumas que nunca chegam a acontecer). Existem também aquelas pessoas que têm o poder de se abstrair da existência carnal e tornar-se promessas não cumpridas, frases ditas ao acaso, situações constrangedoras. Perturbadoras essas pessoas.
A verdade é que ninguém sai realmente da nossa vida. Ficam as referências, as fotografias (molhadas de lágrimas salgadas), as tardes de gelado e jardins.
Às vezes sinto um choque no meu cérebro, um relâmpago electromagnético que treme e arrepia. Nesse momento tenho a certeza que algo se apagou. O cheiro do teu perfume, aquela palavra especial dita entre abraços e lágrimas, o olhar que tu me fazias quando ria por tudo e por nada, quando te levava a sítios desconhecidos. Tu cantavas para mim.
Agora já não me lembro das tuas mãos nem da marca dos teus cigarros. Não me lembro do nome da tua rua, nem da tua bebida preferida.
Mas a cada pensamento uma recordação. A cada conversa um flash-back que dói fraquinho e deixa marca. Uma pequena cicatriz que diz, daquele teu jeito meio atabalhoado, que passaste por cá.
Agora lembrei-me. Tu roías as unhas.

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